quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Família e escola

Família e escolaParcerias para um novo aprender



Maria Irene Maluf, Pedagoga, Especialista em Educação Especial e Psicopedagogia Conselheira Vitalícia da Associação Brasileira de Psicopedagogia Editora da revista Psicopedagogia da ABPPNuma sociedade em constante transformação e eterna ebulição de acontecimentos, descobertas e regras, subentende-se a necessidade premente da escola e da família fazerem novas parcerias. Isso inclui fortalecimento, mudanças e criação de alguns novos papéis, para atender ao perfil da criança e do cidadão que se quer formar no século XXI. As mudanças hoje se dão de forma tão rápida, que é freqüente haver certa confusão, até muito compreensível, entre os papéis das diferentes instituições sociais. A cada dia, multiplicam-se os casos em que tais responsabilidades se embaralham e geram mais distúrbios do que clareiam os problemas. Mas as reflexões não devem parar por aqui, no papel: é preciso pensar nas soluções.Desde questões como a aprendizagem escolar, até a formação de valores, atualmente tudo na educação dos jovens passa pela família e pela escola. Primeiro porque a vida atual faz com que a família leve cedo as crianças aos berçários, creches e pré-escolas. Segundo, porque o objetivo do ensino ampliou-se. Hoje, não basta estudar para ter uma profissão, mas é preciso que as pessoas tornem-se verdadeiramente autônomas para aprender de forma continuada, a fim de se tornarem profissionais bem-sucedidos e cidadãos responsáveis. Essas questões, muito ambiciosas, mas necessárias de serem tratadas, não prescindem de acordos tácitos e muito claros entre educadores e familiares. E complementando, significa que desde o princípio, quando estreamos no papel de pais, devemos ter em mente ações, exemplos diários que transmitam hábitos, regras e valores à criança, o que tem relevância enorme, já que aos seis ou sete anos nossos filhos já passaram da fase de anomia, para o estágio da heteronomia (dos sete aos doze anos) e seguem em direção à autonomia, segundo Jean Piaget*.Por anomia, entende-se total falta de regras (a= não; nomos= regra em grego). Por heteronomia, entende-se um estado em que a criança já percebe a existência de muitas regras, mas onde quem decide o que ela deve ou não fazer são os outros, em geral pais e educadores, donos da "verdade absoluta". O próprio Piaget considerava que o respeito às regras exerce papel fundamental no desenvolvimento da moralidade, honestidade, valores pessoais e sociais. E um caminho seguro para isso é sempre usarmos como princípio no dia-a-dia o "faça o que eu faço "... A escolha da escola é também, por essa questão, uma seleção difícil e delicada que deve ser repensada e reavaliada ao longo dos anos. Pois educar hoje é uma parceria, um processo que começa em casa, mas continua logo em seguida, conjuntamente com a escola, onde as crianças passam boa parte de seu dia. A responsabilidade do colégio, em conhecer as regras valorizadas pela família na educação do seu aluno, é tão grande quanto à dos pais em se informar quais são os princípios educacionais da instituição onde querem matricular os filhos.É bom relembrar que o sucesso ou insucesso na aprendizagem não depende somente do trabalho dos professores: começa em casa, quando fazemos questão que nossos filhos conheçam e sigam regras, normas, ordens, rotinas, adquiram responsabilidades, valores e respeito pelas coisas, obrigações em relação a si e também ao próximo.A aquisição de conhecimentos que a escola fornece por meio de seus professores é de importância indiscutível, mas para que esta seja amalgamada à criança deve vir permeada de atitudes, valores e hábitos que levam ao verdadeiro êxito educacional: a aquisição da autonomia construtiva, produtiva e sadia no aprender e no Ser.* Jean Piaget nasceu em Genebra, Suíça, em 1896. Estudou biologia, mas se dedicou à psicologia e à educação. Tornou-se reconhecido ao organizar o desenvolvimento cognitivo em fases, revolucionando as concepções a respeito da formação do conhecimento e da inteligência. Tornou-se epistemólogo genético ao investigar a natureza do conhecimento e seus estágios de desenvolvimento. Autor de mais de cem livros, entre eles - A construção do Real na Criança, O Desenvolvimento da Noção de Tempo na Criança, Da Lógica da Criança à Lógica do Adolescente e A Equilibração das Estruturas Cognitivas. Num de seus livros mais famosos, A Epistemologia Genética, defendeu que o crescimento humano se forma ao longo da vida, em etapas, por meio da assimilação de dados externos e referências próprias. Ele morreu em 1980.

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